"Suas palavras tocavam minhas entranhas”. Assim Graciela Hernández Morales descreve o impacto de A diferença sexual na história. Uma obra que recupera a língua materna para revelar como dois sexos criam e fazem história.

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Capa do livro A Diferença Sexual na História de María-Milagros Rivera Garretas, publicado pela Editora Ginna

Ao ler este livro, além de encontrar erudição e precisão, senti que suas palavras tocavam minhas entranhas. Tive essa experiência porque a autora, catedrática de história medieval na Universidade de Barcelona, se mantém apegada ao real ao desvendar o sentido de diversas práticas de mulheres, e também de alguns homens que deixaram uma marca sexuada, de liberdade, em seu tempo histórico. E deste modo, me vi imersa na aventura de me interrogar sobre minha própria prática de mulher que se move no século XXI.

O pensamento da autora toca o chão e rompe com aquela tradição universitária que fez uma representação desencarnada e abstrata do mundo. Uma tradição que dá voz preferente a um sujeito histórico pretensamente neutro, quando, na realidade, sempre foi masculino, como se a experiência dos homens bastasse para representar o vivido e criado por ambos os sexos. Do mesmo modo, é uma tradição que concedeu o poder dos corpos humanos ao Estado ou à igreja, como se não tivéssemos sido dados e dadas à luz por nossas mães.

Rivera Garretas faz uma aposta radical. Recupera a língua materna para falar de história, essa que nos permite fazer coincidir as palavras com as coisas e, com esse simples gesto, se atreve a dizer o que apenas foi balbuciado na historiografia vigente.

Faz um percurso pela Europa feudal e o Ocidente capitalista, colocando no centro de sua narrativa um fato evidente: são dois os sexos que criam e fazem história. Em suas palavras: “A diferença sexual não é, pois, um dado fixo — ‘biológico’, como se costumava dizer antigamente — mas um dado interpretável, um dado sempre em movimento, sempre em processo de conservação e de mudança, que é do que se ocupa a história. É um dado que impregna a relação de cada ser humano com a realidade, sexuando-a. Sexuar a relação com o real não é uma complicação sem a qual viveríamos melhor, mas sim uma riqueza grande e ofertada, uma fonte inesgotável de sentido”.

A autora não enfatiza a discriminação feminina, nem tampouco nas lutas de poder masculinas, mas sim o que umas e outros criaram além do patriarcado, do poder, da violência, do social. Ou, dito de outra forma, neste livro ela nos traz experiências de liberdade nas quais ambos os sexos abrem espaços de liberdade no contexto que lhes coube viver sem negar nem renunciar a seu próprio sexo e, no caso dos homens, sem pretender se os guardiões da experiência feminina. Como ela mesma diz “[…] a liberdade só pode ser alcançada com a liberdade. E sem liberdade não há história humana”.

Publicado originalmente em espanhol na revista acadêmica GénEroos, n. 4, v. 15, 2009. Traduzido por Marina Colerato

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